O lugar onde vivemos é parte da nossa história, nele experimentamos a vida em sua totalidade e construímos nossas memórias.
Veremos agora o registro das atividades desenvolvidas com os alunos ao longo da Olimpíada de Língua Portuguesa - 2019
,
E.E.PROFª.
ILMA DE LANA E. CALDEIRA
Professora: Cristiane
Dias G. Paula
Apoio: Elaine F. Neves
Eller(Especialista)
6º e 7º anos – Memórias
Literárias
Plano de Trabalho da
Olimpíada de Língua Portuguesa
2019
Sumário
1 – Conceito ( roda de
conversa )
2 – Oficina: Naquele
Tempo ( Prática )
3 – Oficina: Vamos
Combinar
4 – Oficina:
Semelhantes, porém diferentes
5 – Culminância
6 – Avaliação do
trabalho
1 - Conceituação
Há
situações em que a memória se apresenta por meio de perguntas que fazemos ou
que fazem para nós; em outras, a memória é despertada por uma imagem, um
cheiro, um som. De onde vem nossa necessidade de lembrar? Ou: por que a
lembrança se impõe até mesmo quando não temos intenção de recordar? A aceitação
dessa ideia nos leva a encarar a poética sugestão de Walter Benjamin (2004): “A
memória não é um instrumento para a exploração do passado; é, antes, o meio. É
o meio onde se deu a vivência, assim como o solo é o meio sutil no qual as
antigas cidades estão soterradas. Quem pretende se aproximar do próprio passado
soterrado deve agir como o homem que escava.” Aproximar-se dos ausentes,
compreender o que se passou, conhecer outros modos de viver, outros jeitos de
falar, outras formas de se comportar representam possibilidades de entrelaçar
novas vidas com as heranças deixadas pelas gerações anteriores. As histórias
passadas por meio de palavras, gestos, sentimentos, podem unir moradores de um
mesmo lugar e fazer que cada um sinta-se parte de uma mesma comunidade. Isso
porque a história de cada indivíduo traz em si a memória do grupo social ao
qual pertence. Esse encontro, como afirma Ecléa Bosi (2005), é uma experiência
humanizadora.Os registros escritos são uma possibilidade de perpetuar nossas
memórias. Em seu livro Memórias inventadas: a terceira infância, Manoel de
Barros nos mostra como o processo de escavação proposto por Benjamin pode ser
feito por meio da literatura:
Três
personagens me ajudaram a compor estas memórias. Quero dar ciência delas. Uma,
a criança; dois, os passarinhos; três, os andarilhos. A criança me deu a
semente da palavra. Os passarinhos me deram desprendimento das coisas da terra.
E os andarilhos, a pré-ciência da natureza de Deus. Quero falar primeiro dos
andarilhos, do uso em primeiro lugar que eles faziam da ignorância. Sempre eles
sabiam tudo sobre o nada. E ainda multiplicavam o nada por zero – o que lhes
dava uma linguagem de chão. Para nunca saber onde chegavam. E para chegar sempre
de surpresa. Eles não afundam estradas, mas inventavam caminhos. Essa a
pré-ciência que sempre vi nos andarilhos. Eles me ensinaram a amar a natureza.
Bem que eu pude prever que os que fogem da natureza um dia voltam para ela.
Aprendi com os passarinhos a liberdade. Eles dominam o mais leve sem precisar
ter motor nas costas. E são livres para pousar em qualquer tempo nos lírios ou
nas pedras – sem se machucarem. E aprendi com eles ser disponível para sonhar.
O outro parceiro de sempre foi a criança que me escreve. Os pássaros, os
andarilhos e a criança em mim, são meus colaboradores destas memórias
inventadas e doadores de suas fontes.
Memórias literárias geralmente
são textos produzidos por escritores que, ao rememorar o passado, integram ao
vivido o imaginado. Para tanto, recorrem a figuras de linguagem, escolhem
cuidadosamente as palavras que vão utilizar, orientados por critérios estéticos
que atribuem ao texto ritmo e conduzem o leitor por cenários e situações reais
ou imaginárias.
2
– Oficinas 1: Naquele tempo...
Objetivos:
Valorizar a experiência
das pessoas mais velhas.
Compreender o que é
memória.
Perceber como objetos e
imagens podem trazer lembranças de um tempo passado.
Observar que as
memórias podem ser registradas oralmente e por escrito.
1-ª etapa
Início de conversa
Certamente
há várias maneiras de iniciar os alunos no estudo e na produção de um gênero
textual. Nesta oficina, propomos a você que ouça com os alunos dois trechos de
livros de memórias literárias, que estão no áudio: “Transplante de menina”, do
livro de mesmo nome, de Tatiana Belinky (São Paulo: Moderna, 2003), e “Parecida
mas diferente”, do livro Anarquistas, graças a Deus, de Zélia Gattai (Rio de
Janeiro: Record, 1986).
Atividades
Ø Após
a audição, algumas questões podem nortear a conversa:
Ø Que
temas são tratados nos trechos?
Ø Quem
vivenciou e está narrando os acontecimentos na primeira história? E na segunda?
Ø Elas
se parecem com alguma situação que vocês já vivenciaram?
Ø Há
acontecimentos marcantes na vida de vocês, que mereçam ficar registrados para
sempre na memória? ▷
Converse com os alunos sobre o significado das palavras “memória” e “memórias”,
anote as definições na lousa.
Ø Explique-lhes
que todos nós temos episódios de vida para lembrar: uma festa, uma travessura,
um passeio, uma viagem, um costume. Alguns deles são tão importantes e
marcantes que merecem ser registrados.
2ª
Etapa
Receberemos
na escola a escritora Marli F. moradora de nossa cidade, que muito conhece e
escreve sobre o nosso “cantinho mineiro.” Marli F. fará uma palestra sobre o
que é memória e qual a importância de preservar as memórias de um lugar.
Logo
após, Marli, contará fatos marcantes que vivenciou em nossa cidade e como esses
fatos contribuíram para sua carreia de escritora.
Os
alunos poderão conversar com a escritora e saciar as curiosidades que surgirem.
Os
alunos produzirão junto com a professora um texto coletivo narrando as memórias
da escritora, compartilhadas com a turma.
3ª
Etapa
“Lembrar é voltar ao
passado, visitar lugares escondidos na alma e fazê-los brotar em suaves recordações”
Ø Nessa
etapa, a professora reunirá os alunos na biblioteca e explicará que as memórias
podem ser guardadas de diferentes maneiras, que os livros guardam memórias,
histórias de anos, séculos, milênios... Leitura de fragmentos do livro Memórias
da escritora Nelma Eller, moradora de nossa cidade.
Ø Em
seguida, a professora explicará que as memórias também podem estar guardadas em objetos, que os
objetos possuem história e as contam
para quem as quer ouvir!
Ø A
professora apresentará para a turma dois objetos de sua infância e fará um
relato da história desses objetos e da importância que eles têm em sua vida.
Ø Logo
após, cada aluno fará o registro das memórias da professora no Diário de bordo da biblioteca.
4ªEtapa
Vestígios do passado
Atividades
Ø Lembre
aos alunos que fotografias antigas ajudam a recuperar lembranças do passado.
Peça-lhes que façam uma pesquisa na comunidade para localizar e pegar
emprestado esse material.
Ø Pergunte
aos alunos se eles têm em casa objetos antigos guardados pela família. Podem
trazer cartas, utensílios domésticos, ferramentas, máquinas antigas, roupas,
discos ou algum outro objeto mencionado pelo entrevistado. Também é possível
fotografar esses objetos e as fotografias antigas, com uma câmera fotográfica
ou celular, caso não seja possível trazê-los.
Ø Explique-lhes
que as fotos e os objetos são elementos importantes para promover a aproximação
com o passado, mas as pessoas são as principais fontes de memória; na verdade,
a mais rica delas. Diga a eles que os relatos orais e escritos serão o foco do
trabalho durante as oficinas.
Oficina
2: Vamos combinar?
Objetivos:
Conhecer a situação de
comunicação de textos de memórias literárias.
Etapa 1
A situação de produção
Memórias
podem ser escritas e conhecidas por outras pessoas, não apenas por quem as
viveu. É exatamente isso que seus alunos serão estimulados a fazer:
aproximar-se de antigos moradores da comunidade, ouvir os relatos de lembranças
deles e escrevê-los para que sejam lidos por muitos.
Viver para contar
Atividades
Ø Leia
para os alunos um fragmento do livro Nas ruas do Brás, que está na próxima
página. Avise-os que a leitura será de um texto de memórias.
Ø Antes
apresente o autor, dê algumas informações sobre ele, utilizando o quadro
abaixo.
O pai do meu pai era pastor de
ovelhas numa aldeia bem pequena, nas montanhas da Galícia, ao norte da Espanha.
Antes de o dia clarear, ele abria o estábulo e saía com as ovelhas para o
campo. Junto, seu amigo inseparável: um cachorrinho ensinado. Numa noite de
neve na aldeia, depois que os irmãos menores dormiram, meu avô sentou ao lado
da mãe na luz quente do fogão a lenha: – Mãe, eu quero ir para o Brasil, quero
ser um homem de respeito, trabalhar e mandar dinheiro para a senhora criar os meus
irmãos. Ela fez o que pôde para convencê-lo a ficar. Pediu que esperasse um
pouco mais, era ainda um menino, mas ele estava determinado: – Não vou
pastorear ovelhas até morrer, como fez o pai. Mais tarde, como em outras noites
de frio, a mãe foi pôr uma garrafa de água quente entre as cobertas para
esquentar a cama dele: – Doze anos, meu filho, quase um homem. Você tem razão,
a Espanha pouco pode nos dar. Vá para o Brasil, terra nova, cheia de
oportunidades. E trabalhe duro, siga o exemplo do seu pai. Meu avô viu os olhos
de sua mãe brilharem como líquido. Desde a morte do marido, era a primeira vez
que ela chorava diante de um filho.
Drauzio Varella. Nas
ruas do Brás. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2000, p. 5. Coleção Memória e
História
Etapa 2
Ø Conte
aos alunos que o Brás é um bairro da cidade de São Paulo e abrigou muitos
imigrantes espanhóis, italianos etc., que vieram tentar a vida no Brasil. Foi
nesse bairro bem popular que nosso autor cresceu e viveu as aventuras que
registrou nesse livro destinado às crianças. Entre suas próprias lembranças,
ele conta também as histórias de juventude de seu avô.
Ø Informe-os
que nesse trecho do livro, ele reconstitui a conversa do avô com a mãe, quando
tinha 12 anos, no momento em que decide deixar seu país e vir para o Brasil.
Ø Após
a leitura do texto, organize uma rodada de opiniões e comentários. As questões
sugeridas abaixo podem orientar a conversa, mas não devem ser transformadas em
um questionário.
Ø O
que imaginaram e sentiram enquanto ouviam o texto?
Ø Alguma
parte chamou mais a atenção? Qual? Por quê?
Ø O
que o autor conta nesse trecho: um fato que viveu, uma situação, suas
lembranças pessoais ou as de outra pessoa?
Ø Releia
o texto para os alunos e peça-lhes que desenhem no papel ou no computador, uma
cena que tenha lhe chamado a atenção.
Ø Lembre
à turma que esse livro foi publicado quando Drauzio tinha 57 anos e nesse
trecho ele conta uma história que deve ter ouvido do avô (ou de seu pai) quando
era criança.
Ø Continue
a conversa perguntando se o autor escreveu exatamente o que ouviu naquela
época.
Ø Comente
as diferenças entre registrar exatamente o que se ouviu e a lembrança da
história que se escutou.
Oficina
3: Semelhantes, porém diferentes
Objetivos:
Conhecer gêneros que se
assemelham por terem como principal ponto de partida experiências vividas pelo
autor.
Orientar o aluno a
identificar as principais características do texto que ele deverá escrever.
Etapa 1
Gêneros textuais diferentes
Embora com objetivos e
características de produção diferentes, alguns gêneros tratam de temas muito
semelhantes entre si e podem confundir o leitor. Nesta oficina apresentamos
alguns textos que, apesar de pertencerem a gêneros diferentes, podem parecer
aos alunos memórias literárias.
Atividade
Ø Organize
os alunos em grupos e peça-lhes que leiam “Minha vida de menina”, “Mercador de
escravos” e “Memória de livros”. Antes da leitura, lembre-lhes que observem o
nome dos autores e a data em que os textos foram publicados. Pergunte se já
tinham ouvido falar deles, se já haviam lido algum livro ou texto escrito por
eles.
Minha
vida de menina
Quarta-feira, 28 de agosto [de 1895].
Faço hoje quinze anos. Que
aniversário triste! Vovó chamou-me cedo, ansiada como está, coitadinha, e
deu-me um vestido. Beijou-me e disse: “Sei que você vai ser sempre feliz, minha
filhinha, e que nunca se esquecerá de sua avozinha que lhe quer tanto”. As
lágrimas lhe correram pelo rosto abaixo e eu larguei dos braços dela e vim
desengasgar-me aqui no meu quarto, chorando escondida. Como eu sofro de ver que
mesmo na cama, penando como está, vovó não se esquece de mim e de meus deveres
e que eu não fui o que devia ter sido para ela. Mas juro por tudo aqui nesta
hora que vovó melhorando, eu serei um anjo para ela e me dedicarei a esta
avozinha tão boa que me quer tanto. Vou agora entrar no quarto para vê-la e já
sei o que ela vai me dizer: “Já estudou suas lições? Então vá se deitar, mas
procure antes alguma coisa para comer. Vá com Deus”.
Helena Morley. Minha
vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras. Publicado em 1942, aos 62
anos.
Mercador
de escravos
Quando eu morei na Nigéria, ouvi de
vários descendentes de ex-escravos retornados do Brasil que seus antepassados
trouxeram consigo um saquinho de ouro em pó. E que os menos afortunados
desembarcavam em Lagos com os instrumentos de seu ofício e alguns rolos de
tabaco, mantas de carne-seca e barriletes de cachaça, para com eles reiniciar a
vida. É provável que tenha sido também assim, com seu contrabando de ouro ou o
seu tanto de fumo e jeritiba, que alguns dos traficantes brasileiros instalados
no golfo do Benin começaram os seus negócios. Não foi este, porém, ao que
parece, o caso de Francisco Félix de Souza. A menos que estivesse mentindo
quando disse ao reverendo Thomas Birch Freeman que chegara à Costa sem um
tostão e que foram de indigência os seus primeiros dias africanos – confissão
corroborada por um parágrafo de TheophilusConneau, no qual se afirma que
Francisco Félix começou a carreira a sofrer privações e toda a sorte de
problemas. Outro contemporâneo, o comandante Frederick E. Forbes, foi menos
enfático, porém claro: Francisco Félix era um homem pobre quando desceu na
África. Que ele tenha, de início, como declarou, conseguido sobreviver com os
búzios que furtava dos santuários dos deuses não é de estranhar-se. Os
alimentos eram muito baratos naquela parte do litoral. Numa das numerosíssimas
barracas cobertas de palha do grande mercado de Ajudá, recebia-se da vendedora,
abrigada sob o teto de palha ou sentada num tamborete atrás do trempe com seu
tacho quente, um naco de carne salpicado de malagueta contra dois ou três
cauris. Custava outro tanto um bocado de inhame, semienvolto num pedaço de
folha de bananeira e encimado por lascas de peixe seco. E talvez se obtivesse
por uma só conchinha um acará.
Alberto da Costa e
Silva. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira/Editora da UERJ. Publicado em 2004, aos 73 anos.
Memória de livros
Não sei bem dizer como aprendi a
ler. A circulação entre os livros era livre (tinha que ser, pensando bem,
porque eles estavam pela casa toda, inclusive na cozinha e no banheiro), de
maneira que eu convivia com eles todas as horas do dia, a ponto de passar tempos
enormes com um deles aberto no colo, fingindo que estava lendo e, na verdade,
se não me trai a vã memória, de certa forma lendo, porque quando havia figuras,
eu inventava as histórias que elas ilustravam e, ao olhar para as letras, tinha
a sensação de que entendia nelas o que inventara. Segundo a crônica familiar,
meu pai interpretava aquilo como uma grande sede de saber cruelmente
insatisfeita e queria que eu aprendesse a ler já aos quatro anos, sendo
demovido a muito custo, por uma pedagoga amiga nossa. Mas, depois que completei
seis anos, ele não aguentou, fez um discurso dizendo que eu já conhecia todas
as letras e agora era só uma questão de juntá-las e, além de tudo, ele não
suportava mais ter um filho analfabeto. Em seguida, mandou que eu vestisse uma
roupa de sair, foi comigo a uma livraria, comprou uma cartilha, uma tabuada e
um caderno e me levou à casa de D. Gilete.
João Ubaldo Ribeiro. Um
brasileiro em Berlim. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, pp. 106-107.
Explicação:
Helena Morley, pseudônimo usado por Alice Dayrell Caldeira Brant. A autora
nasceu em Diamantina (MG), em 1880, e faleceu em 1970, no Rio de Janeiro (RJ).
O diário de Helena Morley foi escrito no século XIX, ao longo de três anos, e
publicado quarenta e sete anos depois, com o título Minha vida de menina.
Explicação:Nesse
relato histórico, o autor procura reconstituir a vida de uma personagem
importante da história do Brasil, Francisco Félix, o Chachá, um mercador de
escravos. Os fatos relatados por Alberto da Costa e Silva são fruto de
investigações que ele realizou ao longo de quase sessenta anos. Observe que
embora inicie esse segundo capítulo do livro mencionando uma experiência vivida
por ele, logo em seguida o autor passa a relatar fatos e informações relativas
à personagem sobre a qual escreve. Ele é um observador da história de Chachá.
Explicação:
João Ubaldo Ribeiro, em “Memória de livros”, faz o registro literário de suas
recordações de menino: o casarão onde morava em Aracaju (SE), os avós, os pais,
a primeira professora, os livros e as revistas que lia, os cheiros dos
impressos antigos, os gestos de leitura mesmo antes de ser alfabetizado.
Trata-se, portanto, de um texto de memórias literárias. Ao se colocar como
narrador- -personagem – recurso muito utilizado em textos desse gênero – o
autor recria o passado e procura transportar o leitor para o tempo e o espaço
onde ocorreram os acontecimentos narrados
Etapa
2
Atividades
Ø Após
a leitura desses trechos, escreva na lousa as palavras: diário, relato
histórico, memórias literárias. Explique aos alunos que cada um dos textos
lidos refere-se a um dos gêneros escritos na lousa. Peça aos grupos que leiam
novamente os textos, tentando identificar a que gênero pertence cada um deles.
Ø Ajude
os alunos a perceberem que há semelhanças entre os textos: todos são escritos
em primeira pessoa; o autor é também o narrador ou o relator dos fatos. Além
disso, os autores relatam acontecimentos que marcaram experiências de vida. Mas
é importante ressaltar que também existem diferenças entre eles:
Diário:
costuma ser elaborado como um registro íntimo; em sua origem, não se dirige a
outra pessoa, o seu destinatário primeiro é o próprio autor. Nele, são
registradas as experiências vividas no presente. Quando os diários são
publicados, tempos depois de terem sido escritos, geralmente passam por uma
transformação. Peça aos alunos que observem a data que está no diário de Helena
Morley e como a primeira frase mostra que o registro foi escrito no dia em que
a autora fez 15 anos.
Relato
histórico: pode ser definido como uma narrativa que estabelece
relações entre sujeitos, fatos e tempos históricos. O autor de um relato
histórico não se atém à narrativa de uma história. Quando o autor é um historiador,
ele busca fontes, reúne e analisa documentos, utiliza critérios para verificar
a veracidade do que relata. Normalmente, relatos históricos não trazem a
história do autor. O texto de Alberto da Costa e Silva está escrito em primeira
pessoa, mas a história contada é a de Chachá.
Memórias
literárias: geralmente são narrativas que têm como
ponto de partida, experiências vividas pelo autor em épocas passadas, mas
contadas da forma como são vistas no presente. Comente com os alunos que ao
longo das oficinas eles aperfeiçoarão o conhecimento sobre textos de memórias
literárias. ▷
Para finalizar, organize com os alunos um resumo na lousa com as principais
características de cada texto (intenção do autor, a quem o texto se destina,
tema, recursos utilizados).
Etapa
3
Ø Levar
os alunos à biblioteca escolar e ouvir com eles o áudio do texto: O valetão que engolia meninos e outras
histórias de Pajé- Coletânea de textos das outras edições da Olimpíada de
Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro.
O valetão que engolia meninos e outras
histórias de Pajé
Já
foram escritas muitas histórias da época em que os meninos engraxates eram
engolidos pelo valetão da Rua Sete de Setembro. Mas nenhuma delas conta esta ou
outras histórias de Pajé. Guardo-as dentro do peito, como boas lembranças da
rua onde vivi e que teimam em se misturar com a história da cidade. Nascemos
juntos: eu, a rua e essas histórias. Somos uma coisa só, mas nós não estamos
nos livros. Estamos na contramão, por isso me atrapalho com as palavras. Às
vezes falta ar, outras o ar é demais, então o meu coração acelera, o nó na
garganta avisa: o menino Pajé vai acordar! Hoje, quem não conhece a Rua Sete de
Setembro é porque não conhece minha cidade – Toledo. Apertada entre outras no
extremo oeste paranaense, bem pertinho do Paraguai, surgiu de uma clareira no
meio da mata. Naquele tempo, uma clareira; hoje, Rua Sete de Setembro. Essa rua
foi crescendo e acolhendo o progresso que tenta esconder e aprisionar as
histórias de Pajé. Elas estão descansando embaixo do calçamento, dos asfaltos,
dos prédios, das casas. Basta um sinal que elas voltam. Cheiro de terra molhada
– esse era o sinal. E, ainda hoje, sinto esse cheiro entrando no meu cérebro e
mexendo com o meu coração. Naquele tempo bastava sentir o cheiro de terra
molhada para que nós, os meninos engraxates, escondêssemos nossas engraxadeiras
– caixa de madeira em que se guardava o material necessário para engraxar
sapatos – no porão dos fundos da bodega do Pizetta e, como garotos matreiros,
saíssemos de mansinho, sem despertar curiosidade. Corríamos lá embaixo, no
começo da rua que embicava no meio da mata, pois o mistério ia começar! A chuva
caía e formava muita enxurrada que, com sua força, trazia a terra misturada.
Parecia uma cascata de chocolate que despencava no valetão – buraco muito
profundo provocado pelas enxurradas, erosão. A água fresquinha que caía do céu
misturava com a terra quente e provocava o mistério. Nós éramos puxados para
dentro daquele enorme buraco por uma força estranha sem dó. Mesmo os que não
queriam não conseguiam resistir, porque a magia era muito forte e, em poucos
segundos, estávamos lá dentro, na garganta do valetão, onde brincávamos durante
horas. Nessas horas o trabalho era esquecido. Quando eu era menino, trabalhava
muito. Todos os dias de manhã ia à escola e, ao retornar, mal acabava de
almoçar, pegava a engraxadeira, colocava nas costas para a rua, quer dizer,
para o trabalho. A engraxadeira era muito grande e pesada para meu tamanho – eu
era apenas um garoto! Mas era a única forma de ajudar minha mãe no sustento da
família. Sentia como se estivesse carregando o mundo sozinho. Hoje sou adulto e
sei que aquela magia era fruto de nossa fantástica imaginação. Como qualquer
outro menino, o engraxate também tinha direito de brincar. Uma das poucas vezes
em que podíamos fazer isso era quando chovia. Mesmo que depois nos custasse
castigos e surras. Atualmente, as brincadeiras, comparadas com as de meu tempo,
são muito diferentes. Hoje, os heróis são Superman, Batman, Homem-Aranha. Antes
tínhamos heróis indígenas, com suas histórias cheias de mistérios das
florestas. Naquele tempo, quando chovia, o valetão da Rua Sete de Setembro era
nosso mundo fantástico. Além das divertidas brincadeiras no lamaçal que escorria
da rua, fazíamos cabanas no paredão da erosão, guerrilhas com bodoque, usando
sementes de árvores como cinamomo e mamona. Quando não chovia, sobrava tempo
para brincar só aos domingos. Então, eu – Pajé – e minha
Oficina
4: Para
saber mais...
Segundo
o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, memória é “aquilo que ocorre ao
espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência”.
No mesmo dicionário, encontramos para memórias: “relato que alguém faz, muitas
vezes na forma de obra literária, a partir de acontecimentos históricos dos
quais participou ou foi testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida
particular”.
Proponha aos alunos que se
organizem individualmente ou em pequenos grupos para conversar com pessoas mais
velhas. Podem ser pessoas da própria escola ou de casa – um vizinho, um
parente...
Etapa
1
Ø
Faça com a classe uma lista dessas
pessoas. Elas devem ter disponibilidade para receber os alunos. Pais, avós e
outros membros da comunidade também podem ajudar nessa tarefa de identificar os
moradores escolhidos. Pessoas comuns podem narrar fatos engraçados ou tristes,
expressando o modo como sentiram e viveram esses acontecimentos. O que
interessa é que as lembranças sejam fortes e significativas para quem as conta.
Ø
Os alunos podem iniciar o contato
perguntando a essas pessoas se teriam disponibilidade para conversar, emprestar
objetos e fotos antigas, contar as lembranças que têm do lugar. Para isso,
podem fazer-lhes perguntas como:
Ø
O(a) senhor(a) se lembra de alguma
passagem marcante da sua vida nesta cidade?
Que fato é esse? Por que ele foi
marcante?
Ø O(a)
senhor(a) tem algum objeto antigo ou foto que lembre essa passagem de sua vida?
Ø Aproveitando
a ocasião, converse com a turma a respeito da importância do registro; dê
sugestões e dicas para que eles anotem o maior número possível de informações
durante a conversa com a pessoa escolhida.
Ø Em
classe, reunidos em pequenos grupos, peça aos alunos que contem o que ouviram e
organizem um quadro com os seguintes dados:
Nome e idade
do entrevistado
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Fato lembrado
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Temas
mencionados
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O que mais
chamou a atenção
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|
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|
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Ø Peça
a alguns alunos que recontem brevemente o que ouviram. Pergunte-lhes também o
que mais chamou a atenção do grupo nesse relato. Para facilitar a conversa,
pode-se perguntar se compreenderam o que o entrevistado disse; o que sentiram
ao ouvi-lo, se ficaram surpresos em
conhecer as histórias antigas do lugar, lembranças diferenciadas da vida na
localidade nos tempos de outrora.
Etapa 2
Hora de conhecer nossas
histórias...
Os
alunos farão entrevistas com moradores da cidade, familiares ou conhecidos,
registrarão seus relatos e produzirão os textos de memória.
Ficha
de Entrevista:
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FICHA DE ENTREVISTA
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MEMÓRIAS LITERÁRIAS
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ALUNO(A):_______________________________SÉRIE:_________TURMA:______
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PROFª:
______________________ESCOLA:_________________
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DADOS
DA ENTREVISTA:
ENTREVISTADOR;-------------------------------------------------------------
ENTREVISTADO(A)NOME
COMPLETO:__________________________________
CIDADE
ONDE NASCEU:_______________________
CIDADE
ATUAL:______________________
DATA
DE NASCIMENTO:_______/______/______
TEMA
DA ENTREVISTA: “O LUGAR ONDE VIVO”
SUBTEMA: “MINHA HISTÓRIA, MINHAS RECORDAÇÕES”
OBJETIVO:
Promover
A Interação e o Respeito entre Alunos e Idosos através da Valorização de Suas
Memórias e História de Vida.
TEMPO
DE DURAÇÃO : _______________________
ROTEIRO
PARA ENTREVISTA:
1º-HÁ
QUANTO TEMPO O SENHOR (A) MORA NESTA CIDADE?
2º-
COMO ERA O BAIRRO EM QUE O SENHOR (A)PASSOU SUA INFÂNCIA? COMENTE
3º-
HOUVE ALGUM FATO MARCANTE NESTE LOCAL EM QUE SE RECORDA? CONTE
4º-FALE
SOBRE SUA TRAJETÓRIA DE VIDA
5º-
QUAIS ERAM AS BRINCADEIRAS DAQUELA ÉPOCA?COMO O SENHOR (A) SE DIVERTIA?
6º-
O SENHOR (A) TEM ALGUMA FOTO DAQUELE TEMPO? ALGUM OBJETO GUARDADO QUE RECORDE
SUAS VIVÊNCIAS?
7º
- SUA FAMÍLIA ERA CONSTITUÍDA DE QUANTAS PESSOAS? SEUS PAIS E DEPOIS O SENHOR
(A) TRABALHAVAM EM QUE?
8º-
AS ROUPAS DAQUELE TEMPO ERAM PARECIDAS COM AS DE HOJE?HOUVE MUDANÇAS?QUAL(S)?
9º-
E A CIDADE, O BAIRRO ONDE NASCEU E VIVEU BOA PARTE DE SUA INFÂNCIA TEVE
MUDANÇAS?
10º-
O QUE O SENHOR (A) GOSTARIA QUE PERMANECESSE IGUAL AQUELE TEMPO DE SUA
INFÂNCIA OU MOCIDADE?FAÇA UMA COMPARAÇÃO DESSAS DUAS ÉPOCAS.
11º-
APÓS A ENTREVISTA ANEXE UMA FOTO DA ENTREVISTA OU SOMENTE DO ENTREVISTADO.
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5- CULMINÂNCIA
Como
encerramento das atividades da Olimpíada de Língua Portuguesa em nossa escola,
faremos uma Aula Passeio na “Fazenda
Flor de Minas”, propriedade da família do pai de um dos alunos do 6º ano, que dirá suas
memórias e as histórias contadas por seus antepassados, pois a fazenda pertence
a essa família há mais de oitenta anos.
6 - AVALIAÇÃO DO TRABALHO
1-Como você se sentiu ao realizar
essas atividades?
2-O que o trabalho com as oficinas da
Olimpíada da Língua Portuguesa, representou para você?
3-Qual parte do trabalho ou qual
oficina mais lhe agradou?
4-Que memória do trabalho com as oficinas
da Olimpíada da Língua Portuguesa você
irá guardar?( Desenhe)